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16-11-11

Cutetalk com Victor Sahate

Victor Sahate é um designer brasileiro que iniciou a sua carreira na criação interna do Unibanco, passou pela Globo.com e Gringo. Foi para Europa como grande parte dos criativos sonha, passou pela Agency Republic, Syzygy e hoje dirige a criação da agência londrina Analog Folk.

Confira a seguir a entrevista exclusiva com Victor Sahate.

Quando você começou, imaginava chegar ao mercado europeu com tanto prestígio?

Não. Quando eu comecei eu não tinha muitos planos e não tinha idéia de como seria meu caminho profissional. Na verdade, até eu receber propostas para vir para Europa, eu nunca havia pensado em trabalhar fora do Brasil como um plano ou objetivo na minha vida… as coisas foram acontecendo.

No início da carreira, você criou para o mercado financeiro, passando por um portal de notí­cias, algumas agências em Londres e hoje encontra-se estabelecido no mercado inglês na agência Analog Folk. Como se deu toda essa mudança / evolução?

Eu comecei trabalhando na equipe interna de criação do Unibanco, para o Banco1.net e Investshop.com. Consegui esse trabalho através de um grande amigo, Guilherme Borchert, que hoje também trabalha aqui em Londres. Depois trabalhei na Globo.com, seguindo a mesma linha de desenhar os produtos internos da empresa. Foi apenas respirando “os ares” de São Paulo, na Gringo (hoje Possible SP), que comecei a lidar com criação sob o ponto de vista mais comercial e publicitário, em projetos para clientes externos e marcas internacionais.

Sob a perspectiva da minha carreira, as mudanças se manifestavam como desafios. O desafio de pisar em novos terrenos, em mercados que eu nunca havia trabalhado antes, com pessoas que desconhecia em uma dinâmica de trabalho quase mitológica.

Sob o ponto de vista criativo, os desafios se apresentavam quase que como jogos. Apenas mais uma série de obstáculos e objetivos que se caso eu não tivesse sucesso eu poderia tentar novamente. O que de uma certa forma sempre foi a minha paixão. Então, pessoalmente, nunca fez muita diferença a mídia, o formato, se é interno, externo, interface, desenho, idéia, campanha ou qualquer outra coisa. Como designer, eu gostava do frio na barriga do papel em branco e a consequente êxtase da criatividade consumada.

Analog Folk

Site da agência Analog Folk

Você chegou a ter a seu próprio estúdio, a Red Alien. Por que não deu continuidade? Existe algum plano de comandar sua própria agência/estúdio?

Não demos continuidade porque percebemos que as ambições dos 3 sócios estavam em trajetórias diferentes.

Resolvemos fechar o estúdio e seguir nossos caminhos. Além de uma super experiência, a Red Alien me aproximou de pessoas muito especiais e apenas por isso já foi uma etapa muito importante na minha vida.

Sobre comandar a minha própria agência… hummm… acho que seria legal sim ao lado de pessoas que me inspiram, mas não existe nenhum plano.

Você se intitula um designer convicto. Ainda sobra tempo de botar a mão na massa e criar junto com os outros DAs/Designers ou o seu trabalho fica mais na direção?

Meu trabalho fica sim na direção. Mas acredito que dirigir me responsabiliza por botar a mão na massa em praticamente tudo. Tento com muito esforço enxergar meu time como parte da minha “mão” e eu como um serviço pra eles. Acho que é uma unidade. Não gosto do título “Diretor de Criação”, sinto que me coloca uma pressão muito pesada, ser o diretor da “CRIAÇÃO”, tipo… quase uma coisa bíblica. Prefiro ser designer convicto. 🙂

Quais foram os cases que você mais teve orgulho de ter participado?

Absolut Brasil é definitivamente um case que me marcou. Ganhamos a conta da Absolut America Latina com menos de 10 pessoas na agência.

Competimos com as maiores agências de São Paulo. Não tínhamos equipe de planejamento, atendimento, estratégia… éramos apenas designers e programadores apaixonados e motivados pelo que a gente fazia. Vencemos de uma forma especial.

– Outro projeto que me marcou foi o “20 Things that Happened on the Internet” que fiz no início desse ano em parceria com o ilustrador McBess e grande amigo John Bennett. Fizemos um poster ilustrando os 20 fatos mais interessantes e marcantes que ficaram famosos na internet em 2010.

Batemos o recorde de acesso ao site da empresa em 2 dias (Syzygy) com um único blog post. Tivemos mais acessos do que somando todos os acessos da história da empresa. O projeto foi primeira página em revistas e blogs como Wired, Gizmodo, Design Week, The Telegraph e muitos outros. O modelo desse projeto me faz feliz e prova que simplicidade pode trazer resultados incríveis.

Cite 3 projetos que gostaria de ter feito.

1) Gostaria de ter criado o Spotify. Acho um dos melhores produtos dos últimos anos. E as possibilidades estão engatinhando ainda. Acho que o Brasil não tem autorização para usar ainda. É um cloud de música que vc tem a discografia completa de quase tudo em alta qualidade.

2) The Johnny Cash Projects – Um exemplo super bonito e inspirador de envolvimento a participação das pessoas. Usuários ajudaram a desenhar cada frame do video clipe e no final o filme todo é um conjunto de estilos e ilustrações criadas por fãs do Johnny Cash.

3) EA FIFA12. Os caras que criam esse jogo são gênios pra mim. Toda a vez que jogo eu tenho a inspiradora certeza de que video game é o futuro.

No Brasil, você passou pela Gringo (hoje Possible SP). Você enxerga uma proximidade no dia-a-dia de trabalho e criação da agência paulistana com as agências estrangeiras?

Sim. Não vejo muita diferença na verdade. O que é diferente é o lado de fora. O que acaba fazendo uma grande diferença. As agências todas tem as mesmas preocupações e funcionam em modelos parecidos. Além disso, São Paulo é uma cidade internacional. O que eu percebo é que quando uma empresa tem uma cultura sólida ela se destaca e é um lugar legal de trabalhar, seja em qualquer lugar do mundo.

É incrível a quantidade de brasileiros que trabalham no exterior sendo premiados em festivais importantíssimos. Você diria que as agências gringas estão cada vez mais “caçando” mão-de-obra qualificada nacional ou é uma consequência natural da evolução de todos os profissionais que vão pra fora?

Existe sim um certo mito aqui de que você precisa ter um brasileiro em seu time criativo. Brasil funciona como um certo “selo de qualidade” nessa área. Somos misturas com um padrão cultural bem distinto, a mistura é muito presente, o que nos torna um ponto de vista interessante em qualquer ambiente criativo.

Mas não diria exatamente que as agências estão caçando brasileiros. O mercado é meio que o mundo. As agências estão atrás de mão de obra qualificada em qualquer lugar, até nas Ilhas Mauricius.

Sahate citação

Quais são as suas referências no dia-a-dia de trabalho?

Pinterest é aonde eu salvo algumas referências visuais que gosto e vou achando no meu dia a dia. Para o resto, minhas referências são as pessoas inspiradoras que cruzo na minha vida. Anna Burles, John Bennett, Matt Dyke, Dan Collier, Bill Brock, Florian Schmitt e muitos amigos e profissionais que certamente estão na lista das referências que passaram na minha vida.

Como você faz para equilibrar trabalho, lazer e família?

Não diferencio muito as coisas para falar a verdade. Eu acredito que entender um novo conceito de “tempo e espaço” é importante, especialmente para quem trabalha com comunicação e pra quem tem filho (eu não tenho por sinal). Ideal pra mim é trabalhar quando me sinto inspirado e motivado, seja sábado, domingo, noite ou dia. Tento organizar minha vida partindo desse princípio, seguindo as devidas regras, que um dia a gente ainda quebra. 🙂

Londres, Inglaterra

O que Londres tem de bom pra oferecer aos jovens criativos em suas horas vagas?

Londres é uma cidade cheia de inspiração e história. Praticamente tudo na cidade pode ser uma referência ou conhecimento. Além da história, é também um centro de modernidade e cultural. Tem muita arte, filosofia, pensamento e pessoas de todos os cantos do mundo. Basta vir.

Quer saber mais? Siga @sahate e fique de olho no @cutedrop.